Maracujá, a Fruta da Paixão bem Brasileira – Artigo

 

[Passiflora serratifolia, Linn] – Desenho de José Joaquim Freire – Data circa 17XX.

[Passiflora capsularis, L.] – Desenho de Joaquim José Codina – Data circa 17XX.

[Passiflora factidae, Linn.] – Desenho de José Joaquim Freire – Data 1785.

[Passiflora laurifolia, Linn.] – Desenho de José Joaquim Freire – Data 1785.

[Passiflora] – Desenho de José Joaquim Freire – Data circa 17XX.

Maracujá, a Fruta da Paixão bem Brasileira – Artigo
Artigo

Maracujá, palavra de origem tupi que significa “alimento em forma de cuia”, é uma espécie endêmica do Brasil e de toda a região amazônica. Já era plantado e consumido pelos povos originários bem antes de espanhóis ou portugueses chegarem a esse território. A origem e a diversidade genética das espécies cultivadas do maracujá (gênero Passiflora) encontram-se nos Andes colombianos e nas florestas brasileiras. Com suas flores vistosas e de cores diferentes, que vão do branco ao vermelho escuro, o arbusto logo chamou a atenção dos estrangeiros. A primeira referência ao maracujá no Brasil foi registrada por Gabriel Soares de Souza (1540-1591), agricultor e empresário português que se estabeleceu na Bahia e, em 1587, escreveu o Tratado descritivo do Brasil, obra que reúne informações diversas e de interesse dos colonizadores sobre a vegetação, a fauna, os povos originários e a geografia das terras recém ocupadas.
Sobre essa vegetação desconhecida pelos colonizadores, Souza escreveu: “comecemos logo a dizer dos maracujás, que é uma rama como hera e tem a folha da mesma feição, a qual atrepa pelas árvores e as cobre todas, do que se fazem nos quintais ramadas muito frescas, porque duram sem se secar muitos anos. A folha da erva é muito fria e boa para desafogar, pondo-se em cima de qualquer nascida ou chaga e tem outras muitas virtudes; e dá uma flor branca muito formosa e grande que cheira muito bem, de onde nascem umas frutas como laranjas pequenas, muito lisas por fora; a casca é da grossura das laranjas de cor verde clara, e tudo o que tem dentro se come, que além de ter bom cheiro tem suave sabor. Esta fruta é fria de sua natureza e boa para doentes de febres, tem ponta de azedo e é mui desenfastiada; e enquanto é nova, faz-se dela boa conserva; e enquanto não é bem madura, é mui azeda”.
Os desenhos da Brasiliana Iconográfica, que ilustram este artigo, foram feitos por volta de 1785 por José Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim José Codina (1700-1790), integrantes da expedição de Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815), que percorreu as capitanias do Grão Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá entre 1783 e 1792. Na Amazônia, existiam e ainda existem dezenas de espécies de maracujá, ou do gênero Passiflora, como foi estabelecido pelo botânico sueco Linnaeus (1707-1778), em 1735.
O maracujá passou a ser conhecido na Europa com o nome de fruto da paixão, e daí o nome científico de Passiflora, a partir de uma associação feita entre as características de sua flor e os elementos da Paixão de Cristo. A primeira referência à tal simbologia é atribuída ao médico espanhol Nicolas Monardes (1493-1588), que nunca esteve no Brasil ou na América espanhola. Morador de Sevilha, Monardes estudou as propriedades farmacológicas das plantas que recebia por navio e cultivava em sua casa. Publicou em 1574 a Historia medicinal de las cosas que se traen de nuestras Indias Occidentales, obra que teve 42 edições em seis idiomas e onde faz referência a uma granadilla (como os espanhóis chamavam o maracujá, devido a alguma semelhança com a romã). No livro, descreve em detalhes os frutos e as sementes da Passiflora e sugere que a flor é obra criada por Deus para representar a Paixão de Cristo. A coroa de filamentos (que atrai polinizadores como a mamangava, o beija-flor ou o morcego) representaria a coroa de espinhos; os três estames (órgãos reprodutores masculinos) simulavam os pregos da cruz, as cinco anteras, as chagas do crucificado, e as gavinhas, o açoite. A cor roxa que colore parte da flor seria o sangue derramado. Dizem que o papa Paulo V (1550-1621) foi também responsável por disseminar a simbologia da planta, depois de ter recebido uma muda de maracujá e mandado cultivá-la em Roma.
Fato é que a flor e, por derivação, a fruta passaram a ser conhecidas como “da paixão” em muitas línguas, como francês (fruit de la passion), inglês (passion fruit), italiano (frutto della passione) e outras. No mundo, existem hoje cerca de 600 espécies do gênero Passiflora. O Brasil, maior produtor e consumidor mundial do maracujá, tem cerca de 150 espécies nativas. O maracujá-amarelo ou azedo, de que se faz suco, é o mais cultivado no país.
No ano passado, uma nova espécie de maracujá foi descrita na revista Acta Botanica Brasilica, pelos pesquisadores Ana Paula Gelli de Faria e Leonardo Moreira Campos Lima, do Instituto de Ciências Biológicas, da Universidade Federal de Juiz de Fora (ICB-UFJF). Os pesquisadores decidiram batizar a nova espécie de Passiflora purii, em homenagem à etnia puri, que resistiu à invasão portuguesa na serra da Mantiqueira. Texto da Brasiliana Iconográfica.

Nota do blog: Data das fotografias não obtidas / Crédito para a Brasiliana Iconográfica.
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Andrea Belloti

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