Imagens do Palacete Joaquim Franco de Mello, Avenida Paulista, São Paulo, Brasil

Imagens do Palacete Joaquim Franco de Mello, Avenida Paulista, São Paulo, Brasil
São Paulo – SP
Fotografia

Texto 1:
Construído em 1905, tombado em 1992, foi prometido pelos políticos de sempre que as obras de restauro começariam em 2020, o que, claro, não aconteceu.

Hoje, 06/09/2024, as coisas continuam na mesma, zero mudança. Texto do blog.

Texto 2:
A importância do café como fonte de riquezas para o Brasil, e especialmente para o Sudeste, nos séculos 19 e 20, é fato que compõe o imaginário dos brasileiros, desde a sua passagem pelos bancos escolares. O sucesso da lavoura cafeeira no estado de São Paulo teve consequências importantes para a construção da economia e da política na região, tendo deixado marcas ainda visíveis em sua via mais famosa, a avenida Paulista.
Os barões e coronéis do café foram responsáveis pela primeira fase de ocupação da avenida, eminentemente residencial. Grandes e belos casarões foram nela construídos, o que a tornou palco da vida social, política e econômica daquela época.
A maioria desses casarões não resistiu ao tempo, mas alguns ainda persistem na avenida. Dentre eles, chama bastante atenção o palacete construído pelo coronel Joaquim Franco de Mello, em 1905, ainda em pé no atual número 1919 e que sempre pertenceu à mesma família.
O palacete foi erigido no centro de uma grande área verde. Sua arquitetura valeu-se do estilo eclético, muito popular à época, que mesclava influências do Rococó, do Barroco e do Renascimento, bem ao gosto burguês do período. Foi ampliado nos anos posteriores, o que o deixou com a configuração atual.
Ao longo dos anos seguintes, o bom andamento dos negócios com café e com loteamentos imobiliários enriqueceu a família. Nesse ambiente confortável, o coronel e a sua esposa, Lavínia, tiveram três filhos: Raphael, Raul e Rubens. Pai, mãe e Raphael, o filho mais velho, residiram no palacete até morrerem, em 1937, 1954 e 1978, respectivamente. Os outros dois irmãos, Raul e Rubens, voltaram a morar no casarão nas décadas de 1950 e 1980, respectivamente. Rubens trouxe consigo uma nova geração da família, na pessoa de seu filho Renato Franco de Mello.
Em 1992 o imóvel foi tombado pelos patrimônios municipal e estadual como “bem cultural de interesse histórico-arquitetônico e cultural”. O tombamento foi colocado sob a responsabilidade do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat).
À época, os proprietários alegaram que não tinham condições financeiras para manter o imóvel nos termos das condições impostas pelo tombamento, que determinavam que deveriam ser conservadas “todas as características internas e externas, a partir da reforma realizada em 1921, e a área verde que lhe é pertinente”.
Nesse mesmo ano, os atuais proprietários, Rubens Franco de Mello e sua esposa, ajuizaram ação pedindo o reconhecimento da desapropriação indireta do imóvel, com a consequente indenização no valor do bem, dado que o tombamento lhes havia privado do exercício do direito de propriedade do imóvel e da possibilidade de exploração econômica.
Citando precedente judicial relativo à Casa Modernista de Gregori Warchavchik, os proprietários alegaram que a ocupação do casarão por uma só família não é mais financeiramente possível nos dias de hoje e que o tombamento havia tornado inviável a exploração de parte do imóvel por atividade com fins comerciais. Nesse contexto, o tombamento, embora, em princípio, não implique a perda de propriedade, impõe inúmeras limitações ao direito de propriedade.
A partir da década de 1990, Renato Franco de Mello passou a encabeçar a administração da casa. Para tentar angariar recursos para a manutenção do imóvel, cedeu o espaço para a promoção de eventos, festas, feiras de adoção de animais, bazares, peças de teatro e até para um sebo, algo que o tombamento não permitia e que lhe ocasionou notificações e multas sucessivas.
A sentença, de 1995, entendeu que o tombamento impunha restrição absoluta ao direito de propriedade e concedeu indenização aos herdeiros. Essa decisão foi confirmada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), em acórdão de 1997. O Estado, inconformado, seguiu discutindo os valores a serem pagos pelo imóvel e a atribuição dos encargos/obrigações de manutenção da estrutura. Levou a questão ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao Supremo Tribunal Federal (STF). Em valores atualizados, a indenização estaria em torno de R$ 110 milhões.
Rubens e Renato não chegaram a ver o desfecho final do processo, pois Rubens faleceu em 2006 e Renato em 2019.
Em junho de 2019, após 27 anos de litígios, o palacete passou das mãos dos herdeiros para o Governo Estadual, sob a responsabilidade da Secretaria Estadual da Cultura. O processo, contudo, segue em andamento, sendo discutido, agora, o destino da indenização.
Ao longo das três décadas de impasses, o imóvel aguardou, pacientemente, que tivesse fim a multiplicidade de fases processuais, de instâncias e de recursos de um processo em que uma petição inicial de quatro páginas deu origem a autos que, até o momento, já acumularam 18 mil páginas, em inacreditáveis 31 anos de tramitação.
Na última década, o Governo de São Paulo chegou a anunciar vários destinos para o casarão: museu de Ciências, museu da diversidade LGBT e museu gastronômico, dentre outros, mas ainda não deu início a nenhum desses projetos, apesar de já ser proprietário inconteste do imóvel há quatro anos.
A família Mello Franco, por sua vez, desejava que o imóvel fosse remobiliado, com móveis originais do início do século 20, dos quais eram proprietários, e que fosse transformado em uma casa-museu, para mostrar aos visitantes como viviam os moradores da avenida Paulista nos tempos áureos do café e da Belle Époque.
Enquanto aguarda um destino, seja ele qual for, o casarão segue fechado e em processo acelerado de deterioração. Sua história recente é mais um caso em que o tombamento, que deveria proteger o imóvel, para benefício cultural das gerações posteriores, acabou potencializando o efeito contrário: seu fechamento, inacessibilidade ao público e sua deterioração.
Em vista disso, infelizmente, no caso em questão, o tombamento e o surrealismo jurídico que se seguiu serviram apenas para a autojustificação da existência de todo o sistema administrativo e jurídico e para impedir que esse patrimônio se integrasse, organicamente, à vida quotidiana, algo bem distante dos efeitos pretendidos. Ao fim de três décadas, entretanto, permanecem firmes o desejo e a esperança de que, quando o palacete finalmente ganhar um destino, não seja tarde demais para a sua já tão comprometida arquitetura. Texto do Consultor Jurídico.
Nota do blog: Imagens de 2024 / Crédito para Jaf.

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Andrea Belloti

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